
"Despedida de Solteira" emprega homossexualismo feminino como uma (óbvia) reviravolta de roteiro, mas acaba soando como se narrasse própria invenção da roda. A levada reggae de "Os Pais" não prepara ninguém para a letra, indutora de constrangimento quase instantâneo: "Os pais, os pais / Estão preocupados demais / Com medo que seus filhos caiam nas mãos dos narcomarginais / Ou então nas mãos dos molestadores sexuais / E no entanto ao mesmo tempo são a favor das liberdades atuais". Isso na segunda faixa do disco, praticamente neutralizando a boa fé do ouvinte logo de cara. Só um exemplo de como se pode vir a questionar se a verve poética de Gil não foi definitivamente tragada por Brasília.
Há ainda músicas inclassificáveis, como a eletrônica disforme de "La Resistence Africaine" e "O Oco do Mundo". O baião digital "Não Grude Não" é um dos poucos pontos altos num trabalho longo e amorfo demais. Todo o incremento teórico apresentado pelo ministro acerca de inclusão digital e assuntos na ordem do dia infelizmente o fazem soar mais anacrônico do que quando cantava o nonsense irretocável de "Nêga, you spent so blissfully the last few days with me". Ninguém em sã consciência questionaria o legado de Gil e a longa sombra que sua música conjura sobre toda MPB, mas no fim das contas não é isso que está em questão: Banda Larga Cordel soa como uma oportunidade desperdiçada por uma das poucas lendas vivas da música nacional.
Fonte: Igpop
Nenhum comentário:
Postar um comentário